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Comida e emoções: 8 dicas para criar uma relação saudável

Elaine de Pádua EP
dom, 16/05/2021 - 10:36
Representando a relação entre comida e as emoções, a foto mostra as mãos de uma criança mexendo em alguns pedaços de alimento colocados em um prato.

A alimentação é um processo complexo, aprendido e aprimorado, que depende de condições físicas e do desenvolvimento da criança, assim como das suas habilidades orais e sensoriais para interpretar e interagir com o alimento. Essa complexa função envolve os aspectos orgânicos da criança e também as emoções, a motivação, o contexto social, familiar e ambiental da criança e de seu cuidador.

As crianças nascem apreciando o gosto doce e o salgado, principalmente o doce. É um comportamento inato do ser humano. Já os sabores amargo e azedo são menos apreciados e necessitamos de mais tempo e aprendizado para adquirir o gosto por eles. Sim, a questão do gosto passa por um aprendizado. E como isso acontece? Desde o nascimento, a criança vivencia uma série de sabores, que passam pelo leite materno.

Ao mesmo tempo em que mama, um ambiente de afeto está colocado. A criança está cercada de atenção, carinho... Impossível dissociar um do outro. Nos primeiros anos de vida da criança, a alimentação será um dos principais focos de interação entre pais e filhos, sendo uma oportunidade de trocas, afetos, aprendizagem e comunicação entre ambos. Assim, a emoção e a alimentação caminham juntas por toda uma vida.

Entendemos que o primeiro aprendizado da alimentação vem da família e sua relação com o alimento. Até porque a criança depende de um adulto para se alimentar, então o alimento está relacionado necessariamente com a presença e a relação com o outro. Saciar a fome é um momento de conforto, que acalma aquilo que nos incomoda ou inquieta: a fome. Então, logo esse elo entre afeto e alimento, essa relação, vai se fortalecendo, pois alimentar alguém é um ato de amor.

Assim, as expressões durante a oferta de alimentos, como “hum, a manga está uma delícia” já estimulam a criança a formar o gosto pelo alimento oferecido. Além disso, a repetição desse ritual tão cercado de atenção e afeto e com os mesmos alimentos ajuda a formar aquilo que é familiar para a criança. Porém, mais que isso, ao ampliar seu repertório de alimentos, a criança estará se abrindo a uma maior qualidade de emoções ao longo da vida, pois o mundo dos sabores é uma fonte permanente de surpresa e prazer.

O aprendizado alimentar precisa estar cercado de situações que remetam a segurança, cuidado e conforto. A criança necessita vivenciar a alimentação, o preparo, o desenvolvimento de boas experiências com o alimento a partir do modelo familiar, das trocas e interações com os cuidadores principais durante esse momento, para que a situação de alimentar-se seja interpretada como uma experiência segura e agradável. Uma criança que é obrigada a comer, ou mesmo que vivencia ameaças ou barganhas relacionadas às refeições em troca de privilégios, comumente é uma criança que acaba reforçando padrões negativos perante o momento da alimentação.

A introdução alimentar é a primeira experiência alimentar da criança após a amamentação. Essa fase é carregada de transformações e possibilidades de vivências, assumindo papel fundamental nas relações sociais maternas. A transformação da maternidade da mãe que amamenta para mãe que alimenta.

A nutrição, como processo biológico do organismo, é considerada hoje como elemento crucial no processo de escolha alimentar, uma vez que deficiências nutricionais ou condutas alimentares inadequadas podem levar a prejuízos na saúde da criança em curto e em longo prazo. Olhar para a importância dos nutrientes é uma tendência moderna do campo da Nutrição, que orienta o consumo saudável.

Além da influência no desenvolvimento infantil, a alimentação contribui para a construção da identidade da criança, que aprende muito sobre si e sobre o ambiente no qual vive a partir de suas experiências. Os sabores, as texturas, os cheiros e as cores dos alimentos também auxiliam no crescimento e desenvolvimento da criança. Nessa fase, a criança, junto com a mãe, vivencia um processo de socialização em que ambos experimentam novos papéis e novas relações com o mundo.

A prática de alimentar as crianças não se restringe à oferta de alimento e à garantia da refeição, mas também ao processo educativo, no qual os pais transportam ao filho valores da própria família. As mães são figuras determinantes na educação alimentar e no trato à saúde infantil, trazendo consigo uma carga de valores simbólicos.

Dicas importantes para que esse momento agradável proporcione um contexto positivo:

  • Estabelecer tempo de duração e horários das refeições: aqui, o intuito maior é não ficar oferecendo alimentos o tempo todo para a criança. Um dado importante é que pesquisas mostram que as crianças têm a capacidade de compensar sua ingestão ao longo do dia, inclusive de forma melhor que o adulto. Ou seja: se ela comeu pouco em uma refeição, certamente comerá mais na próxima, e vice-versa, se ela comeu bastante em uma refeição, pode não estar com tanta fome e apetite na refeição seguinte. Esse dado é bastante importante, pois ajuda o adulto a não ficar ansioso com a quantidade de comida ingerida pela criança na refeição e a ficar tranquilo para não “forçá-la” a comer.
  • Manter um ambiente agradável, confortável, sem ruídos ou com coisas que distraiam a atenção da criança no momento da refeição. Manter a televisão ligada durante as refeições pode distrair a criança e o adulto, e impedir um diálogo. Permitir que a criança leia um livrinho ou um gibi na mesa também. Proporcionar um local adequado para a criança se sentar também é importante. Se ela não estiver confortável, tendo que ficar ajoelhada, por exemplo, vai querer sair dessa posição e até abandonar a refeição.
  • Diminuir o volume de líquidos durante as refeições, ou oferecê-los apenas ao final da refeição, pois os líquidos ajudam a saciar a fome – a sensação de saciedade e plenitude gástrica, ou seja, de estar satisfeito.
  • Uma estratégia interessante para facilitar o consumo de verduras e legumes é oferecer à criança a salada em primeiro lugar, assim, ela estará com fome e irá consumir essa preparação mais facilmente. Por outro lado, deixar a criança comer toda a refeição, oferecer a repetição de seus alimentos preferidos e depois oferecer a salada pode fazer com que ela se desinteresse por ela, pois já está saciada.
  • Nomear corretamente os alimentos é importantíssimo, pois só assim a criança poderá aprender que gosta de alface, por exemplo, mas de rúcula não tanto. Se chamarmos todas as verduras de salada, ou “verdinho”, a criança não aprenderá a diferenciar os sabores, ou acabará por entender que não gosta de salada como um todo.
  • Comprar e preparar os alimentos com a criança pode facilitar muito sua aceitação, além de ser uma atividade bastante prazerosa e que favorece o companheirismo e reforça para a criança que o ato de preparar e oferecer um alimento nada mais é do que um ato de amor e de cuidado.
  • Se a criança recusar algum alimento, espere alguns dias e volte a oferecê-lo junto com alimentos de que ela já gosta. Se ela continuar a recusá-lo após várias tentativas, experimente mudar a forma de preparo. Ela não gostou da cenoura amassada? Tente oferecer em pedaços maiores para que ela possa pegar com a mão.
  • A oferta dos novos alimentos permite maior interação dos outros membros da família. Variar as formas de apresentação dos alimentos, usando um prato bonito, colorido, cheiroso e saboroso; interagir com a criança, dizendo sempre o nome dos alimentos que ela está comendo; dedicando tempo e paciência aos momentos de refeição da criança; e parabenizando e elogiando o consumo dos alimentos/refeições. Além disso, é fundamental que a família tenha a iniciativa de consumir os alimentos juntos à mesa para encorajar a criança, já que sabemos que os exemplos dos pais são imitados e aprendidos pelos pequenos.
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