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Precisamos falar sobre assédio infantil com as crianças

Ninhos do Brasil NB
Pai e filho se abraçam dentro de uma sala

Se falar sobre assédio infantil já é um grande tabu na sociedade, tocar nesse assunto com as crianças em casa é ainda mais delicado. Mas evitar o assunto definitivamente não é uma boa opção: o melhor jeito de prevenir o abuso sexual contra meninas e meninos é com diálogo.

O papo é sério e precisa ser franco, então vamos entender melhor sobre esse tema?

Você vai ver como pode levar essa conversa para seu lar sem assustar as crianças. Olha só o que vamos abordar:

  • O assédio infantil é mais comum do que você imagina
  • Como conversar sobre assédio sexual infantil com as crianças
  • Principais sinais de que uma criança foi abusada sexualmente
  • Minha criança sofreu assédio sexual. E agora?

O assédio infantil é mais comum do que você imagina

No Brasil, a campanha Maio Laranja existe para politizar o assunto do Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes.

Segundo o Governo Federal, O Disque Direitos Humanos (Disque 100) recebeu mais de 6 mil denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes, somente no período de 1/01 a 12/05 de 2021.

Ainda de acordo com estimativas do governo, 1 em cada 3 a 4 meninas e 1 em cada 6 a 10 meninos serão vítimas de alguma tipo de abuso sexual até terem 18 anos.

E acredite: 85 a 90% dos agressores sexuais são pessoas conhecidas da criança. Podem ser amigos, parentes e pessoas próximas ao núcleo familiar de alguma forma.

Os assediadores não têm um único perfil e, principalmente por frequentarem o mesmo ambiente que a criança, é que passam despercebidos.

Às vezes, não queremos ter que desconfiar de ninguém, não é mesmo? É complicado ter um pé atrás com adultos e até mesmo adolescentes que têm contato com nossas crianças, mas manter os olhos abertos é essencial.

Sejamos sinceros: você não precisa ir muito longe para conhecer um adulto que foi abusado sexualmente na infância.

A importância na escola na conversa sobre abuso infantil

A maior inimiga no combate ao assédio infantil é a invisibilidade. Por isso, é tão importante tornarmos esse assunto recorrente, em nossa rede de apoio, em casa, e também na escola.

Aliás, a educação sexual nas escolas é uma importante aliada no combate ao abuso sexual infantil. Isso porque os abusadores normalmente exercem uma relação de poder sobre os jovens e as crianças.

Ao falar abertamente, sem julgamento e sem erotização sobre o assunto, a escola ajuda a alertar sobre os perigos e oferece um espaço seguro para a criança contar o que está acontecendo em casa.

Como conversar sobre assédio sexual infantil com as crianças

É preciso interromper a cultura que normaliza toques excessivos em crianças e a crença de que contatos físicos cometidos por adultos não têm maldade.

Por isso, o primeiro passo é envolver-se numa comunicação ativa com seus filhos sobre o que é certo e errado, o que é abuso ou não.

Falamos com a psicóloga Erika Oliveira sobre o assunto, especialista em Terapia Cognitivo Comportamental para crianças e adolescentes.

Explicando o que é o assédio sexual

Na hora de explicar para as crianças o que é o assédio infantil, fale de forma clara e transparente. O primeiro passo é ensinar sobre as partes íntimas e nomeá-las sem medo.

“Todos os limites necessários devem ser estabelecidos com firmeza e gentileza. Explique o que são as partes íntimas: que nas meninas são aquelas cobertas pelo biquíni (vulva, mamilo e bumbum), e nos meninos pela sunga (pênis e bumbum)” – informa Erika.

Em seguida, fale sobre o que é o consentimento. Erika sublinha:

“A criança deve saber o que pode fazer com seu corpo e com o corpo do outro. Deixe claro para ela quem pode tocar em suas partes íntimas e que essa pessoa só pode tocar para higienizar ou passar remédio, se necessário. É importante enfatizar também, que o beijo na boca é abuso sexual.”

Além do toque nas partes íntimas e do beijo na boca, também são assédio sexual: o ato de acariciar, expor órgãos genitais e aliciar a criança a assistir a algo que não queira, como pornografia (ato chamado de grooming).

Tente explicar usando a linguagem de criança, mas sem tirar a seriedade do assunto. Se quiser, procure por músicas, livros e jogos que possam te ajudar na comunicação.

O site Fafá Conta tem várias recomendações super interessantes sobre o tema.

Ensinando a criança a se defender e a contar tudo para você

Mostre para sua filha ou filho que ser educada é uma coisa totalmente diferente de ser permissiva. Se a criança não quiser abraçar ou beijar um primo, por exemplo, está tudo bem.

Outras dicas da psicóloga Erika:

  • Oriente a criança a não aceitar nada e nem ficar sozinha na companhia de estranhos, ensine a negar beijos ou toques em suas partes íntimas, peça para ela gritar bem alto caso isso aconteça e que saia correndo daquela situação em busca de socorro.
  • O mais importante: peça para seu filho sempre lhe contar caso for assediado ou caso você desconfie desse tipo de situação, chegue em seu filho com amor e respeito.
  • Sem pressionar, pergunte sobre o que aconteceu em seu dia, dando a ele a oportunidade de contar algo que possa ser identificado como assédio.
  • É possível que a criança se sinta com medo, vergonha ou até culpada pelo que aconteceu, então acolha seu filho, escute tudo o que ele tem a dizer, acredite no que for relatado, faça ele se sentir seguro e amado e denuncie.
  • Incentive a criança a contar da forma que for mais confortável para ela. Diga que se ela não conseguir falar, pode fazer um desenho ou deixar um bilhete para você.

Alerta vermelho: possíveis sinais de que uma criança foi abusada sexualmente

Ao menor indício de assédio infantil, sob hipótese alguma, reprima a criança. Não pense que é exagero ou frescura dela, pois o que ela pode estar demonstrando é algo muito grave.

Por exemplo, se a criança disser para você que não gosta de determinada pessoa, investigue. Acredite nela e não a obrigue a ter contato com o possível abusador, se for próximo da família.

Erika destaca uma série de comportamentos comuns em menores abusados sexualmente:

  • Mudança repentina no comportamento, como por exemplo: agressividade e choro aparentemente sem motivo;
  • Depressão, ansiedade e isolamento;
  • Desinteresse pela escola, dificuldade de atenção e diminuição brusca no rendimento escolar;
  • Diminuição ou aumento significativo do apetite;
  • Medo ou aversão inexplicável em relação a determinadas pessoas ou gênero;
  • Recusar-se a ir a lugares que antes gostava muito de ir;
  • Passar a ter atitudes erotizadas ou demonstrar exagerado interesse pelos órgãos genitais;
  • Masturbar-se frequentemente e/ou publicamente.

É importante também prestar atenção aos sinais físicos como vermelhidão, coceira, machucados nos órgãos genitais, infecções urinárias, corrimentos vaginais, assaduras e sujeira incomum nas roupas íntimas da criança.

A criança pode revelar que sofre o assédio de forma intencional ou não intencional, de forma completa ou incompleta. Uma boa maneira de entender o que se passa é perguntar se algo a faz se sentir preocupada ou com medo.

Minha criança sofreu assédio sexual. E agora?

Caso a suspeita de assédio seja confirmada: “primeiramente, ofereça segurança ao seu filho, não o deixe sozinho e denuncie através do Disque 100 ou comunique o Conselho Tutelar ou Vara da Infância.

Encontre o telefone do Conselho Tutelar mais próximo digitando ‘conselho tutelar + o nome do seu município’ no Google. Você também pode procurar o CRAS ou CREAS da sua cidade para realizar atendimento psicossocial a criança vítima de violência sexual” diz Erika.

É indispensável o amparo psicológico para a criança:

“A vítima pode desenvolver o transtorno de estresse pós-traumático, depressão, ansiedade, angústia, fobias, baixa autoestima, automutilação, uso de álcool e drogas, ideias suicidas e homicidas, entre outros problemas psicológicos que pode carregar para o resto de sua vida”.

Em alguns casos, é possível recorrer à assistência jurídica.

Cada criança vai reagir ao assédio infantil de uma forma. Seu papel, como cuidadora ou cuidador, é acolher, dar carinho, dar suporte e denunciar.
 
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