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Ninhos do Brasil + Carochinha Editora: Ninhos do Brasil se uniu à Carochinha Editora, selecionando histórias que auxiliam nas questões enfrentadas em diferentes fases. Confira!

“Mãe na pandemia”: um assunto sério por trás da marchinha

Ninhos do Brasil NB
dom, 23/05/2021 - 18:26
Mãe auxilia filho durante aula on-line na pandemia, enquanto ele escreve em um caderno.

Que mãe não se identificou com pelo menos um trecho da marchinha “Mãe na pandemia”, que viralizou na internet nos últimos meses? O quê? Você não viu? A marchinha virou um single com uma batida mais funk e está disponível nas plataformas de áudio. Ah, e a letra completa está no fim da matéria 😉 

Ouço “mãe” o dia inteiro, e a louça lá na pia… ai, eu sou mãe, mãe na pandemia 🎶

A composição da musicista Luisa Toller fez sucesso em vários grupos de mães na internet pela identificação imediata que gerou e pelo alívio de poder rir um pouco – para não chorar – diante da situação que estamos vivenciando.

É, mais de um ano de pandemia não está fácil pra ninguém, e as mães sabem muito bem disso. Em intensidades diferentes, conforme as condições familiares e sociais, a pandemia e o isolamento social atingem em dobro as pessoas com filhos.

Mães solo, principalmente. As mulheres que cuidam sozinhas dos filhos são mais de 11,5 milhões no Brasil. Muitas delas passaram a conviver com a tensão pelo sustento da casa e a falta ou redução das redes de apoio para ajudar nos cuidados com as crianças.

Nesse sentido, o projeto Solo, da National Geographic Society, conta, a partir de textos e fotos muito sensíveis, as histórias de várias dessas mães. São registros espalhados pelo Brasil neste momento de pandemia.

Demitida porque o chefe disse que eu não rendia...se eu trabalho sempre fora, com quem deixo a minha cria?...

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase 8,5 milhões de mulheres ficaram sem seus empregos no ano passado. Dessa forma, a participação feminina no mercado caiu a 45,8%, o nível mais baixo em trinta anos.

Isso definitivamente não significou tempo livre: 50% das mulheres passaram a ter de cuidar de alguém durante a pandemia, conforme apontou o estudo Sem Parar: a vida das mulheres na pandemia. Ele foi realizado pelas organizações Gênero e Número e a Semprevida Organização Feminista.

A gaúcha Daniele Linhares, 39 anos, é uma delas. Casada, trabalhando em casa (administra junto com o marido uma empresa de segurança), é mãe de dois filhos em idade escolar e está grávida do terceiro: “Engravidei mesmo usando o DIU”, conta. Além disso, na metade de 2020 teve a mãe diagnosticada com Alzheimer.

“Ela veio morar comigo. Ela, que sempre foi calma, inteligentíssima, agora está agressiva, briga com as crianças, quer bater. É uma doença muito difícil. Eu tenho que administrar tudo isso sozinha, sem nenhuma ajuda. Estou no meu limite”, desabafa.

Aula online pra assistir e eu nem fiz pedagogia...

Mãe na pandemia, Daniele ainda precisa ajudar os filhos nas aulas online – eles estão na terceira e sétima série. “A sétima série é uma das mais difíceis, ele está com dificuldade”, desabafa.

Além disso, a vigilância com o vírus aumentou a sobrecarga da mãe. “Estou muito assustada com a pandemia, minha mãe é grupo de risco, eu, agora grávida, também sou, meu filho mais velho tem asma severa. Está muito difícil. Não saímos de casa para quase nada e tenho medo de contratar alguém e trazer o vírus para casa”, explica Daniele.

Dar conta do trabalho, da casa e das aulas online, com pouca ou nenhuma oportunidade de “respiro” tem deixado muitas mães e pais ansiosos, angustiados ou culpados.

Leia também a entrevista com a psicanalista Mônica Pessanha: O que a psicanálise diz sobre a “mãe suficientemente boa”

As mães por trás da marchinha

A compositora e educadora feminista Luisa Toller, mãe da Antônia, de 1 ano e 7 meses, percebeu nos grupos de mães que participa pela internet que o drama das mães na pandemia não era pessoal.

Nessas redes de apoio virtuais, em que muitas mães compartilham suas dores e angústias, Luisa viu muitas mulheres reclamando. Isso seja da falta de apoio dos maridos ou da falta de compreensão de colegas de trabalho e chefes neste momento de crianças sem escolas.

Então ela, que antes da maternidade fora tricampeã em concursos de marchinha de carnaval, sempre com temas feministas, abordando questões como assédio, sexualidade e direitos, viu nesse novo momento seu, como mãe, o assunto para mais uma composição.

“Nem tudo são experiências minhas ali, até porque a minha filha ainda não tem aula online. Foi muito em cima de uma pesquisa de campo no grupo de mães. Eu fiz perguntas: do que vocês têm saudade? O que mais incomoda vocês no dia a dia? Várias coisas que elas falaram eu coloquei na música”, explica.

Planejar, fazer, limpar... saudades da boemia
Ai, eu sou mãe, mãe na pandemia

A atriz mineira Júlia Tizumba, mãe de duas meninas, ouviu a marchinha no festival Meu Bebê e se identificou na hora: não tirava a música dos fones de ouvido. “Um dia, quando a bebê dormiu e a maior foi pra tia, gravei e postei no Instagram”. O vídeo viralizou.

Em pouco tempo alcançou mais de 100 mil visualizações. E não dá para contabilizar o número de mães que compartilharam o download do vídeo pelo WhatsApp. Compositora e cantora só se conheceram (ainda virtualmente) depois disso. Juntas, gravaram um single com uma leve batida funk do hit “Mãe na Pandemia”, já disponível nas plataformas de streaming de áudio.Capa do single "Mãe na Pandemia", da cantora Júlia Tizumba, com participação de Luísa Toller e Neila Kadhi. A capa mostra Júlia posando para a foto sentada em um sofá.

Para Júlia, “a música deixa tudo mais leve e a gente mais forte”. Tanto ela como Luísa contam que estão conseguindo segurar a onda graças a isso e a divisão de tarefas com os maridos. 

“Mal sabíamos que cantar e desabafar sobre a nossa realidade ia viralizar esse tanto. A verdade é que rolou uma identificação geral nesse drama que várias mulheres estão vivendo em diferentes graus de intensidade e que apesar do humor da música é um assunto bem sério”, escreveu Luisa no seu Instagram.

Mãe na pandemia

Composição: Luisa Toller

 

Ouço “mãe” o dia inteiro e a louça lá na pia
Ai, eu sou mãe, mãe na pandemia

Demitida porque o chefe disse que eu não rendia
Ai, eu sou mãe, mãe na pandemia

Se eu trabalho sempre fora, com quem deixo a minha cria?
Ai, eu sou mãe, mãe na pandemia

Quem se importa com a criança?
ó Deus Salve a economia
Ai, eu sou mãe, mãe na pandemia

Não me chama de guerreira se eu não tenho a opção
Se eu faço ele não
depois diz que até faria
é que eu sou mãe, mãe na pandemia

Aula online pra assistir e eu nem fiz pedagogia
Ai, eu sou mãe, mãe na pandemia

E se trava a internet, pra quem sobra a teoria?
Ai, eu sou mãe, mãe na pandemia

Uma, duas, três jornadas esse é meu dia a dia
Ai, eu sou mãe, mãe na pandemia

Planejar, fazer, limpar.. saudades da boemia
Ai, eu sou mãe, mãe na pandemia

Não me manda artesanato, culinária pra família
Que eu olho um pano de prato, quero fugir pra uma ilha
é que eu sou mãe, mãe na pandemia

Mamãe eu quero, mamãe eu quero
Mamãe eu quero deitar
Tomar a saideira, dormir a noite inteira, cagar sozinha e passar fio dental
Fechar os olhos e sonhar com o carnaval!

Música e mulheres inspiradoras, não é mesmo? 

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