Representatividade na criação dos filhos: uma mãe preta move o mundo

Um assunto que não poderia faltar na criação dos meus filhos é a representatividade. Em todas as fases da vida e em diversas experiências, esse foi um tema de grande importância para mim: desde a infância, durante minha carreira e agora também na vida adulta.

Para uma criança se enxergar no mundo, ela precisa entender o que representa e os caminhos que pode trilhar. Principalmente quando se trata de filhos de uma mulher preta, como é o caso do Noah e da Sofia, é necessário que haja representatividade em todos os quesitos da vida. E isso começa dentro de casa.

Os exemplos que eu tive. O exemplo que eu sou.

Uma forma de transmitir esse conhecimento para meus filhos é por meio do exemplo. Eles conseguem enxergar em mim uma mulher preta que trabalha, que é responsável e amorosa e que desempenha um papel na sociedade desde muito nova.

Durante minha infância, tive poucos exemplos de representatividade: eu não me enxergava nas revistas, jornais e na TV. Estudei em escola particular e desde nova já notava que a professora não era negra, nem a diretora ou minhas amigas de classe.

A maioria era branca e com uma realidade totalmente diferente da minha. Na época, essas situações mexeram muito comigo, principalmente em relação à aparência. Não tinha nenhuma menina com o cabelo igual ao meu. Fiquei insegura a ponto de até alisar ele durante essa fase para me sentir melhor, para fazer parte.

Demorei a entender que pessoas da minha cor também tinham valor. E o exemplo estava na minha frente, o tempo todo. Como é bom poder ver isso agora. Minha mãe foi uma mulher que me mostrou, muito através do exemplo e das atitudes, o que era ser uma mulher forte, trabalhadora e responsável.

Além dela, a mãe de uma amiga, Dona Márcia, mulher preta retinta, enfermeira-chefe muito bem-sucedida, me ajudou a finalizar o curso de Teatro, pagando a última mensalidade que restava, com a única condição de que eu não parasse de estudar. Esse exemplo eu levo comigo: uma mulher preta que estudou e venceu, e me incentivou a fazer o mesmo.

Representatividade possibilita a criação de sonhos

Acredito que meus filhos podem ser desde médicos, chefs de cozinha, astronautas... basta eles quererem e se enxergarem nessa profissão.

A Sofia, por exemplo, já demonstrou interesse em morar fora do país, me disse que pensa em estudar em Harvard e que gostaria de morar em Los Angeles. Isso me deixa feliz porque significa que ela teve representatividade suficiente para se enxergar nesses cenários no futuro.

O Noah ainda está naquela fase: cada hora quer uma profissão diferente, afinal, ele só tem 4 anos. A última vez que perguntei o que ele gostaria de ser, a resposta foi policial. Quando perguntei o porquê, ele disse: por que eles prendem os bandidos. Achei incrível que o Noah, filho de mãe negra, conseguiu se enxergar nessa profissão de forma digna e protegendo a população, não como a vítima ou com medo de ser uma.

Referência para o futuro

Faço questão de que a Sofia, além de ter meu exemplo, se enxergue em outras mulheres pretas que desempenham diferentes funções na sociedade, para que ela saiba que pode ser o que quiser. O Noah, que é muito observador desde novo, consegue enxergar exemplo nas figuras masculinas da nossa família e dos amigos.

Considero que hoje, como sociedade, já evoluímos bastante. Da minha infância pra infância da Sofia e do Noah, por exemplo, já enxergo muitas novas possibilidades e vejo minha filha de 12 anos muito mais segura do que eu era com essa idade.

Hoje, quando vou comprar produtos para cabelo pra mim e pros meus filhos, existe uma diversidade de marcas e produtos que nos atendem. É possível enxergar negros ocupando diferentes profissões e posições sociais, e isso já demonstra uma grande evolução para que cada vez mais pessoas se sintam representadas e seguras.

Estou criando os dois para que percebam a importância de que, quando uma mulher preta se move, ela movimenta toda uma sociedade com ela. E, para mim, representatividade nos dá esperança de que podemos voar alto, de que teremos oportunidades e de que podemos ser aquilo que sonhamos.

Gostou do depoimento da Negra Li? Representatividade é uma pauta necessária para uma sociedade diversa. Você sabe como conversar sobre diversidade com seus filhos? Confira o texto em que trouxemos algumas dicas aqui:

Diversidade de gênero: como conversar com as crianças?

Ninhos do Brasil NB