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Nutrição materno-infantil: o que esperar de uma consulta?

Carol Albuquerque CA
qua, 29/06/2022 - 10:00
#ParaTodosVerem: Uma mulher de cabelos longos e castanhos, presos, usando camisa branca, aparece desfocada, sentada de costas em frente a uma criança. A criança é uma menina branca, que aparenta ter 8 anos de idade. Com cabelos castanhos, longos, presos em trancinhas, veste uma jardineira amarela e sorri.

De um lado criança que não come, de outro, a criança que come demais. Junto delas, famílias angustiadas buscando o melhor para a saúde e nutrição dos seus filhos. À frente, um profissional de nutrição materno-infantil. 

Visualizou a cena? Eu já fui um pouco de cada personagem! Fui a criança que meus pais queriam que raspassem o prato, fui a mãe preocupada com a intolerância à lactose do filho e hoje sou a profissional que atende essa turma toda.

Mas o que se pode esperar de uma nutricionista materno-infantil? Neste texto, vou contar um pouco sobre essa área que eu tanto amo, e que vejo evoluir há tantos anos.  

Por que nutrição materno-infantil?

A alimentação  tem impacto no desenvolvimento físico, cognitivo e emocional das crianças. Isso vai desde a pré-concepção, gestação e primeiros anos -  e se estende por toda a vida. 

O entendimento da medida desse impacto e a relação entre comportamento e nutrição são temas do constante avanço e estudos em nutrição materno-infantil. 

A nutrição materno-infantil: eu mãe

Há 23 anos, com o nascimento do meu primeiro filho, vivenciei a evolução da ciência da nutrição de perto. O Vinícius sofreu com sintomas de intolerância à lactose, e o diagnóstico e a adaptação na época foram difíceis. 

Nos anos 1990, quase não havia substitutos adequados à alimentação nesses casos. Além de escassos, a grande maioria era nutricionalmente inadequada à fase de crescimento e desenvolvimento dele.

No decorrer dessas décadas, muita coisa mudou e, graças a inúmeros estudos, houve mudanças em orientações e na promoção da saúde. A epigenética, a influência do estilo de vida, a suplementação e a alimentação foram cada vez mais evidenciadas. Isso tudo é incrível, não? 

E tudo isso faz parte do campo de atuação da nutrição materno-infantil, e dos nossos aprendizados como profissionais, mães e pais. 

A nutrição materno-infantil surgiu como solução! 

Especialistas na área materno-infantil são profissionais preparados para atuar desde a pré-concepção, gestação, lactação e introdução alimentar até as alergias, doenças gastrointestinais, seletividade e dificuldade alimentar, obesidade infantil e diabetes (ufa)!  Com o cuidado, atenção e responsabilidade que cada uma dessas fases ou contextos requerem.

Com tantas possibilidades, é de se imaginar como as famílias chegam no consultório: angustiadas, sem saber o que fazer para aliviar sintomas ou mesmo garantir a saúde por meio da alimentação.

Grande parte das famílias se preocupa com o que os pequenos devem comer e quais alimentos devem evitar. Mas a realidade é que tão importante quanto o que eles comem, é como e por que comem!

Por isso, me aventurei no mestrado em nutrição do nascimento à adolescência. Lá, pude aprofundar meus estudos em comportamento alimentar e avaliar fatores como: ambiente, emoções, sinais de fome e saciedade, satisfação e prazer ao comer, dietas restritivas, imposição de familiares e sociedade e outros fatores comportamentais que podem influenciar na alimentação de crianças e adolescentes.

Disso tudo, trago hoje alguns aprendizados para famílias de pequenos que comem pouco e para pequenos que comem demais (mas com pouca qualidade). 

Nutrição materno-infantil quando a criança come pouco

Vivemos numa cultura em que o medo da “desnutrição infantil” ainda está enraizado. Por isso, é tão comum ver famílias insistirem para que uma criança coma mesmo quando ela demonstra que já está satisfeita – isso acontece desde a introdução alimentar.

Quando um bebê recusa determinado alimento, seja pela textura que ainda não está tão familiarizado ou porque não estava com vontade naquele momento, as famílias frequentemente substituem a refeição por leite ou acabam oferecendo outros alimentos com melhor aceitação. 

Isso vai virando uma “bola de neve”: a alimentação vai se afunilando e o repertório acaba ficando bem restrito, o que consequentemente leva a uma baixa ingestão de nutrientes superimportantes.

Ajudar famílias a lidar com as expectativas de ver o bebê como um verdadeiro “comilão” e saber identificar e/ou estimular a criança a perceber os sinais de fome e saciedade é fundamental para o sucesso na aceitação a longo prazo. 

Quando não há a exposição frequente dos diferentes grupos de alimentos, suas diferentes texturas e sabores, é comum que, por volta de 1 a 2 aninhos, eles comecem a ficar ainda mais seletivos com a alimentação.

É claro que é importante investigar se existe alguma causa fisiológica para além da comportamental. Mas já sabemos que, ainda nesses casos, o comportamento e a forma como as famílias lidam com as situações é crucial para que não se instale um problema ainda maior com a recusa alimentar.

Controlando a expectativa familiar

Estudos científicos mostram o quanto a fisionomia de quem está alimentando a criança pode influenciar na recusa alimentar. Mesmo quando as famílias relatam que não forçam ou insistem para que as crianças comam, o simples olhar angustiado e a expectativa para que comam já são suficientes. A criança percebe que está em um “palco” no momento da refeição, ganhando muita atenção (mesmo que de forma negativa).

Algumas famílias chegam a implorar para que as crianças comam apelando para teatrinhos, mímicas e vídeos, forçando-as a comer. Como resultado, algumas crianças até choram. Tudo isso faz com que o momento da refeição se torne um verdadeiro caos para a criança, família e cuidadores.

Por isso, é fundamental o acompanhamento nutricional com acolhimento e orientações necessárias às famílias. Assim, elas aprendem a lidar com casos de recusa, uma vez que manter a neutralidade pode ser realmente desesperador para alguns.

Para quem come demais, restringir não é a resposta  

Em outros casos temos a criança que come demais, e, consequentemente, há o sobrepeso, a obesidade e suas comorbidades associadas. Nesses casos, as famílias acreditam que uma dieta restritiva resolverá os problemas (e aí já viu, né?). Novamente, ressalto que tão importante quanto o que comem é como e por que comem.

Dietas restritivas não funcionam a longo prazo, além de estimularem uma vontade compulsiva de comer os alimentos tidos como “proibidos”. Na prática, as crianças comem escondido ou até atacam brigadeiros em festas em vez de brincarem.

Essas crianças costumam chegar na primeira consulta muitas vezes irritadas, imaginando que vou reafirmar o que elas já estão cansadas de ouvir: precisam emagrecer, precisam parar de comer (em geral as guloseimas que tanto gostam), precisam restringir etc. 

No entanto, o trabalho da nutrição comportamental vai muito além da organização das refeições (em que trabalhamos inclusões de melhores opções). O que realmente acontece é: 

  • as “guloseimas” vão perdendo espaço gradativamente 
  • nós identificamos os gatilhos que levam a criança a comer
  • entendemos suas escolhas, porções de comida, sinais de fome e saciedade
  • compreendemos as emoções envolvidas na hora de comer
  • enxergamos a influência da dinâmica familiar
  • dentre outras questões que vão além do alimento propriamente dito

Ufa! Quanta informação, não? Eu poderia passar horas escrevendo sobre este assunto, já que é uma das minhas paixões. 

É incrível como a nutrição materno-infantil aliada aos estudos do comportamento alimentar podem ajudar famílias a construir uma relação mais gostosa, prazerosa e, claro, nutritiva com a alimentação. Vamos juntes? 💛

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