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Paternidade ativa: será que essa expressão faz sentido?

Ninhos do Brasil NB
dom, 30/05/2021 - 18:44
Humberto Baltar carrega o filho Apolo na garupa. Os dois são iluminados pelo sol e olham para o horizonte.

A ideia de paternidade ativa começou a ser mais divulgada nos últimos tempos para se contrapor à imagem do pai ausente – ou que só “ajuda” de vez em quando. A ideia é boa, mas a expressão vem sendo questionada pelos próprios pais.

Humberto chegou com o filho Apolo, de 2 anos, no posto de vacinação. A enfermeira perguntou onde estava a mãe do menino para acolhê-lo na hora da picadinha. Gentilmente, o pai explicou que poderia fazer isso. “As pessoas esperam que o amparo, o zelo e o cuidado venham só do feminino, e não é assim”, desabafou.

O pai é Humberto Baltar, educador, consultor, palestrante e fundador do Coletivo Pais Pretos Presentes. A mãe de Apolo é Thainá Baltar, engenheira química, que trabalha em uma refinaria em regime de turnos e também atua no coletivo.

“Antes mesmo de ser mãe, sempre entendi que o pai não era um coadjuvante na criação de um filho, e sim ‘ator’ principal. A paternidade ativa é fundamental, porque ela traz efeitos positivos no desenvolvimento e autoestima da criança. Além disso, para as mães e a família, um pai que exerce ativamente o seu papel, fortalece os laços familiares e promove um equilíbrio no que diz respeito ao afeto, atenção e cuidados direcionado ao filho. Isso evita em alguns casos um vínculo excessivo de dependência de mãe e filho”, resume Thainá.

No entanto, Humberto questiona o termo paternidade ativa: “a paternidade ativa nada mais é do que a paternidade. Não existe outra. Quando você adjetiva como ativa, você está dizendo que a paternidade é algo facultativo, opcional. A paternidade surge junto com a criança”.

Para ele, o termo é fruto da nossa realidade machista, que ainda tem muito abandono paterno, mesmo sem haver separação entre os pais. Além disso, que cobra dos homens apenas o papel de provedor material.

“O machismo é tóxico pro homem também. Porque ele furta do homem esse direito de ter intimidade com os filhos, de fazer parte da criação dos momentos do filho, porque ele passa a acreditar que o papel dele é simplesmente comprar algumas coisas, pagar a escola, pagar roupa, enfim, e tá feito a tarefa de pai, né? Ele é só o provedor”, continua.

Raízes africanas para inspirar a paternidade ativa

Humberto contou que foi a partir da retomada com a ancestralidade africana, com a leitura do mulherismo africana – uma vertente de pensamento matriarcal que busca retomar valores que foram aniquilados pela escravidão e pelo racismo – que entendeu o quanto devemos caminhar juntos, pais e mães, para avançar enquanto sociedade, ter uma família plena, presente e ativa.

“Você tem etnias na África em que o sling, aquele pano, é usado pelo pai, que fica paternando, enquanto a mãe cuida de outras coisas”, exemplifica. A frase tão famosa “é preciso uma aldeia para educar uma criança” vem também da África. As mulheres não precisam fazer tudo sozinhas.

Dessa forma, a partir das leituras e da experiência vivenciada, o casal sentiu a necessidade de se conectar a outras famílias negras. Isso pois elas também veem a necessidade de refletir sobre como o machismo e o racismo afetam a criação dos filhos e encontrar formas de mudar isso. Assim, conceberam o coletivo Pais Pretos Presentes – que começou com um post no Facebook e hoje reúne mais de 30 mil pessoas discutindo a parentalidade e a ancestralidade.

Ao oferecer presença, responsabilidade e afeto vindo tanto da mãe quanto do pai, Humberto e Thainá, criam um ambiente pedagógico, em que o pequeno Apolo aprende desde cedo que carinho e cuidado não têm gênero.

Como a paternidade acontece aí na sua casa? Dois pais compartilharam suas visões com a gente. Participe também desta conversa na Rede de Carinho!

Luis Felipe dos Santos, casado com Renata Zardin Flores. Juntos eles são os pais da Morgana, de 14 anos e do João Pedro, de 8 anos.
“Eu tenho um pouco de dificuldade com o termo "paternidade ativa", porque pressupõe que existe uma "paternidade passiva", e a alienação parental é uma realidade muito presente nas famílias brasileiras. Parece que a paternidade pode ser dividida em duas, enquanto a maternidade é uma só. Mas tudo bem, é uma realidade nossa. Para mim, a paternidade é estar presente nas necessidades, ciente das dificuldades e fazer parte da vida das crianças, não só pela sustentação econômica, mas principalmente pela troca afetiva”.

Rodrigo Schier é casado com Cristiane Melere. Juntos, são pais da Alice, de 1 ano.
“Desde as consultas durante a gravidez, estamos sempre juntos. O fato de eu trabalhar em home office também ajuda muito. Estou sempre perto, junto. Eu colocava ela para arrotar depois de mamar. Isso deu confiança para ela ficar comigo para dormir. Não precisa ser só a mãe. Eu também fico com a Cris de madrugada, quando ela retira leite para doar. Mesmo que eu não possa ajudar nisso objetivamente, estamos juntos. O home office também me ajuda a estar presente nas coisas do dia a dia, dando almoço, banho e, claro, brincando, tocando violão e cantando com ela... Com um ano ela já está cantarolando na melodia de tanto que a gente brinca assim… são coisas assim que me tornam um pai”.

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