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Nutrição infantil: alimentação saudável não é terrorismo

Carol Albuquerque CA
qua, 31/08/2022 - 10:00
criança sorri e segura dois ramos de brócolis crua em suas mãos a frente dos olhos.

A nutrição infantil e a alimentação saudável, em geral, têm ganhado mais atenção ultimamente. Nunca se falou tanto sobre esses assuntos: além dos inúmeros livros sobre o tema, somos frequentemente bombardeados na internet com informações sobre o que se deve ou não comer.

Sempre tem um “alimento milagroso'' capaz de reduzir medidas e curar doenças. Ou um alimento tido como o verdadeiro vilão de uma alimentação saudável, e a importância de excluí-lo da dieta.

No entanto, apesar de tanta informação sobre o que devemos ou não comer, nos
últimos 40 anos nenhum país no mundo conseguiu reduzir as taxas de sobrepeso e obesidade. Pior: as taxas em crianças aumentaram 47% , segundo a revista científica The Lancet, uma das mais importantes do mundo. 

Ou seja, as intervenções para a perda de peso não estão funcionando como o desejado.
E como costumam ser essas medidas? Geralmente, são baseadas na diminuição da ingestão de calorias, associada ao aumento do gasto energético (ou seja, a prática de atividade física). 

Porém, estudos mostram que dietas radicais e restritivas não funcionam a longo prazo. Isso porque, quando se trata de alimentação, incluindo a nutrição infantil, devemos levar em consideração também os aspectos sociais, afetivos e cognitivos.

Alimentação afetiva e agradável também faz parte da nutrição infantil

Já reparou nos sinais de fome e saciedade de um bebê? Ele mama quando tem fome e vira o rosto (para de mamar) quando se sente satisfeito. 

Digo isso para lembrar que, no decorrer do tempo, outros fatores passam a influenciar a nutrição infantil, além da necessidade de se alimentar.

A sociedade, a cultura, os pensamentos e sentimentos influenciam nas escolhas alimentares. Dessa forma, pode haver um distanciamento do comer de forma intuitiva – deixando de atender somente aos sinais internos de fome e saciedade.

Vale considerar então que a alimentação saudável é complexa. Dessa forma, não devemos reduzir o alimento estritamente ao seu valor nutricional, quando falamos em alimentação saudável, ou seja, equilibrada. 

Uma cena comum na minha prática clínica é receber famílias angustiadas com o ganho de peso das crianças. 

Essas famílias afirmam ter excluído todos os alimentos tidos como “não saudáveis” da alimentação. No entanto, se deparam com a rejeição da criança a um novo padrão alimentar.

Se você é pai, mãe ou cuidador, já deve ter se questionado sobre isso. Afinal, qual
alimento deve ser retirado da alimentação do seu filho para que de fato ele perca peso?

Mas, antes de responder essa pergunta, acho importante falar sobre um assunto que vem sendo cada vez mais frequente: o terrorismo nutricional e como ele pode afetar a saúde das crianças.

Como o terrorismo nutricional impacta no bem-estar das crianças?

O terrorismo nutricional é um conceito em que o alimento é analisado estritamente pela presença de determinados nutrientes. Isso o reduz somente ao seu valor nutricional, ou seja, sua função. 

Nessa lógica, comer algo serve para atingir um objetivo específico, como perder ou ganhar peso, por exemplo.

Então deixo aqui uma pergunta: o que é saudável pra você? Comer brigadeiro ou
alface? Comer um doce ou levar uma marmitinha de salada para a festa? 

Pergunto isso porque é muito comum ver crianças sendo proibidas de comer doces (não falo das menores de 2 aninhos, isso é pauta para outro texto 😉). Nesse cenário não é incomum que elas comam escondido, ou mesmo em grandes quantidades, quando têm acesso a essas guloseimas. O alimento tido como proibido passa a ser objeto de desejo, uma vez que a restrição pode levar à compulsão.

O terrorismo nutricional não leva em conta todo o valor social e afetivo que a comida tem na vida da criança. O prazer do ato de comer é ainda menos considerado. 

Comer um brigadeiro em uma festa, por exemplo, não é somente consumir um alimento que contém açúcar. Trata-se também de vivenciar um ritual que envolve esse doce na nossa cultura e nas tradições de comemoração de aniversário.

E respondendo a pergunta que fiz anteriormente sobre qual alimento deve ser retirado da alimentação das crianças: o problema não está em um alimento isolado (exceto para crianças que de fato tenham alguma restrição diagnosticada), mas na rotina alimentar como um todo.
 

Responsabilidade com as restrições alimentares

Em geral, para chegar ao sobrepeso ou obesidade, a criança muitas vezes não reconhece seus sinais de fome e saciedade, podendo comer por disponibilidade, ou mesmo comer para lidar com emoções. Além de não ter uma rotina saudável (falo de alimentos, hidratação, sono, sedentarismo, função intestinal, tempo de tela dentre outros).

Estudos mostram que o terrorismo nutricional pode ser gatilho para transtornos
alimentares
logo na infância, uma vez que restrições podem resultar em compulsão alimentar.

No ambiente escolar, recebi muitas crianças com restrições alimentares ao longo dos anos, como ao glúten e/ou à lactose. Isso simplesmente porque famílias decidiram fazer uma dieta de exclusão da moda, sem que de fato tivessem a indicação do pediatra ou nutricionista.

Essas crianças vivenciaram restrições desnecessárias, que podem afetar tanto o convívio social, quanto acarretar em deficiências nutricionais em uma fase tão importante de crescimento.
 

Nutrição infantil e alimentação saudável sem mistérios

O equilíbrio é a chave para uma alimentação saudável. Nenhum alimento deve ser excluído ou proibido sem indicação de um profissional da saúde. 

E, caso a criança esteja com sobrepeso ou obesidade, é muito importante que ela tenha acompanhamento nutricional para que, além do olhar para o que a criança come, aspectos fisiológicos e comportamentais também sejam trabalhados.

O segredo não é retirar alimentos e sim incluir opções melhores. 

Com isso, os alimentos que não deveriam fazer parte da rotina alimentar vão perdendo espaço.

Devemos proporcionar às crianças um leque de possibilidades de sabores, texturas e nutrientes. Isso se faz inserindo na rotina o máximo possível de alimentos in natura, ajudando-a a reconhecer seus sinais de fome e saciedade, além das emoções envolvidas ao comer. 

A alimentação saudável não é somente o que a criança come, mas todo o contexto em que a alimentação está inserida.

Isso envolve o local das refeições ou se a criança se alimenta na frente de celular, tablet ou televisão, por exemplo. Outro aspecto importante é se os pais participam ativamente da alimentação ou se a criança come sozinha. Mas, principalmente, é essencial perceber se a criança reconhece tudo que está comendo.

Meu papel como nutricionista materno-infantil é ajudar as famílias na construção
de uma relação prazerosa, gostosa e nutritiva com a alimentação. 

Aos poucos a angústia vai diminuindo e dando espaço para momentos leves na alimentação das crianças. 

Juntos, por um um ambiente tranquilo para uma alimentação saudável e, claro, sem terrorismo! Contem sempre comigo.


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