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Ninhos do Brasil + Carochinha Editora: Ninhos do Brasil se uniu à Carochinha Editora, selecionando histórias que auxiliam nas questões enfrentadas em diferentes fases. Confira!

O que vem depois de uma conversa difícil com um filho

Beto Bigatti BB
qua, 02/11/2022 - 10:00
pai e filho sentados na calçada conversando

A conversa mais difícil que eu tive com meu filho também foi a mais curta. Em parte, foi silenciosa. Ele, um bebê, ainda não falava. Recorremos à troca de olhares. Ele olhou para aquilo que não enxergava. Foquei em seus olhos para contar a verdade. Havia me preparado por muito tempo para a rejeição que essa inevitável conversa provocaria. Acreditava que um filho não seguiria amando um pai imperfeito.

Me enganei. Ele sanou a curiosidade ao me perguntar (com a surpresa de seu olhar) o que havia acontecido com a minha mão direita. Ela não estava ali. Isso ele percebeu. E, contrariando minhas suposições, meu filho não deixou de me amar quando contei que havia nascido sem ela. Que não era, afinal, perfeito. Após ter explicado que, no lugar da mãozona, ali estavam quatro dedinhos pequeninos, ele deu-se por satisfeito. E seguiu brincando com o caminhão de madeira no chão do quarto num sábado pela manhã.

Como as crianças recebem temas difíceis?

A conversa com meu filho foi breve e verdadeira. Para mim, foi profunda e libertadora. O início de um processo pessoal que me devolveu a possibilidade de me sentir inteiro sendo uma pessoa com deficiência.

Era apenas o início. Mais importante do que tudo, quero crer que essa primeira conversa difícil foi a responsável pelo tom de todas as outras conversas delicadas que tivemos até hoje.

Nunca nos faltou o olho no olho. E esse é um dos segredos para encarar as conversas difíceis que um pai e um filho podem (e devem) ter.

Mas às vezes adultos teimam em esquecer do simples. Sabe, pais e mães têm uma mania: a de achar que detêm boa parte da verdade absoluta do universo. “Nós já passamos por isso”, “Nós sabemos o que é melhor para os filhos”, nós, nós, nós. E tantas vezes deixam de escutar seu filho.

Investidos de um papel que há bem pouco tempo nem exerciam, adultos e seus longos monólogos acabam dificultando o olho no olho e o entendimento entre pais e filhos.

Como ouvir mais e aprender com as crianças

É evidente que temos, pais e mães, mais vida vivida, mais conhecimento e, acima de qualquer coisa, somos nós quem tomamos as decisões. Porém, esse elenco de fatos não deveria excluir a escuta do que nossos filhos têm a nos dizer.

Aprendemos com nossos filhos. E especialmente em conversas difíceis, precisamos nos calar para dar vez à fala deles. Apenas dessa forma eles se sentirão confortáveis para os temas árduos que virão.

Você sabe bem: quando entramos em um discussão armados e desqualificando o outro, as chances de sucesso são praticamente nulas. Diálogo só existe quando há escuta.

E esta é mais uma sugestão que deixo aqui. Faça uma pergunta aberta e deixe seu filho falar sem julgamentos. Sua escuta vai abrir portas. Depois, diga o que precisa ser dito.

Construindo relações honestas com as crianças

No exemplo do início, eu escutei a dúvida de meu filho. Acolhi sua surpresa e dei uma resposta honesta. Houve diálogo e entendimento. Eu poderia ter invalidado seu questionamento. Poderia até ter encerrado a brincadeira e sair sem ter dado resposta alguma.

Esse comportamento diria muito sobre mim. E iniciaria um processo de afastamento entre nós. A mensagem seria: “não devo expor honestamente o que sinto, vejo ou percebo, porque as reações serão ruins”. Ao contrário, sempre é tempo de acolher.

Muito me perguntam sobre conversas tensas com meu filho, agora adolescente. Veja bem, uma relação se constrói ao longo do tempo, com demonstrações claras de afeto e de presença. Cada uma das conversas ao longo desses anos constituem um tijolinho dessa relação.

Um ou outro foram mal colocados, frutos de momentos de destempero meu, mas a construção segue sólida, porque na maioria das vezes há concreto o suficiente erguendo as estruturas.

Diante dos temas difíceis, como lidar com os conflitos?

Sim, atualmente temos momentos de tensão, comuns nesta fase, mas dificilmente falta o olho no olho e a confiança de que ele será escutado. O julgamento fica trancado no porão. E a paciência, cultivada intensamente.

Em palestras e bate-papos dos quais participo, sempre me perguntam como dialogar com filhos adolescentes. Já percebi que o principal erro de muitos pais é imaginar que há uma chavezinha mágica que é acionada do dia para a noite e determina o início dessa troca. Não, não há.

Como ter conversas difíceis com filhos adolescentes

Como tudo na educação dos filhos, é um processo.

  1. Iniciar o quanto antes as conversas abertas, com pouco ou nenhum julgamento, com muita verdade e com escuta ao que eles têm a nos dizer.
  2. Não esquecer de que já fomos adolescentes. Não é pessoal com a gente. O adolescente precisa de doses de conflito e confronto com seus pais. Isso é inevitável, mas garanto que o processo pode ser bem menos oneroso quando já está estabelecido um canal de confiança entre vocês.
  3. Nunca é tarde para começar. Corre que ainda dá tempo!

Provavelmente conversas mais difíceis e desafiadoras virão com o passar dos anos. Nem sempre acertaremos o tom, mas um filho saber que pode confiar no acolhimento de um pai é a certeza de que sempre haverá diálogo entre eles.

E a recíproca é absolutamente verdadeira: o acolhimento de um filho transforma qualquer parentalidade.

É possível preparar as crianças para enfrentar momentos difíceis com mais compreensão dos próprios sentimentos. Saiba mais sobre como desenvolver inteligência emocional desde a infância.

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