Vygotsky: conheça a contribuição do teórico para a educação infantil
Você já ouviu falar em Vygotsky? Talvez o nome pareça estranho, mas algumas frases que se ouve bastante por aí (e por aqui) têm berço na teoria dele.
“Socializar faz bem para a criança”, “ela vai aprender a dividir com os coleguinhas” ou “o meio também educa” são alguns exemplos de afirmações que se popularizaram a partir da teoria de desenvolvimento cognitivo proposta pelo psicólogo bielo-russo Lev Vygotsky.
De forma resumida, a teoria propõe que as crianças aprendem e evoluem quando interagem com diferentes ambientes, situações e pessoas. E que, também por isso, as crianças devem ser tratadas como indivíduos e não como objetos a serem moldados.
Diversos estudos comprovam o que o psicólogo observou há um século: a vivência em diferentes realidades influencia o desenvolvimento das crianças.
Quer conhecer mais sobre o psicólogo e sua contribuição para a educação e a aprendizagem? Nós também, por isso, aprofundamos a pesquisa para te contar mais. Boa leitura!
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Lev Vygotsky: quem foi esse teórico?
Vygotsky nasceu na Bielo-Rússia em 1896 e estudou diversas áreas das humanidades. Em uma época em que pouco se falava sobre a individualidade das crianças, Lev foi pioneiro ao propor um olhar diferente sobre o tema.
Para ele, o contato com o mundo leva as crianças a criarem autonomia e maneiras próprias para aprender. O mundo (ou o meio), nesse caso, são os diferentes ambientes que a criança frequenta, a mediação de adultos e a presença de outras crianças. A escola é um ótimo exemplo, mas não é o único!
Para ele, a criança não só é influenciada pela cultura onde está inserida, mas também pode influenciá-la e transformá-la. Esse é o pulo do gato da perspectiva sociocultural da educação. O aprendizado não é passivo, mas ativo!
De acordo com Vygotsky, a formação da criança se dá numa relação direta entre o sujeito e a sociedade a seu redor – ou seja, o homem modifica o ambiente e o ambiente modifica o homem. Mais tarde, essa teoria passou a ser conhecida como socioconstrutivismo ou sociointeracionismo.
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Qual foi a contribuição de Lev Vygotsky para a educação?
Adultos como mediadores, escuta ativa sobre as necessidades da criança, respeito à individualidade infantil e proposição de atividades colaborativas: você já deve ter ouvido algo assim em alguma reunião de pais na escola.
Pois é, essas ideias se fazem cada vez mais presentes nos métodos de ensino atuais. O que elas têm em comum? Todas fazem parte da teoria de Vygotsky.
O psicólogo ainda foi um dos primeiros a observar que as crianças conseguiam aprender também ao ouvir sobre a experiência do outro. Quer um exemplo?
Seu filho escuta que alguma criança se machucou por andar de bicicleta sem capacete. A partir daí, ele pode (opção 1) não usar o capacete e talvez se machucar também, ou (opção 2) ter medo de se machucar como a outra criança e usar o capacete. Ambas as maneiras são formas de aprendizado.
Vygotsky falou também sobre a importância dos adultos como mediadores do desenvolvimento cognitivo, principalmente em sala de aula. Ali, os professores são responsáveis por apresentar um espaço de colaboração para as crianças, proporcionando um lugar seguro para estimular a autonomia e construir relações.
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Piaget e Vygotsky: qual é a relação?
O biólogo Jean Piaget nasceu no mesmo ano que Vygotsky e os estudos de ambos contribuíram para metodologias da educação, mas as semelhanças param por aí. Para Piaget, o conhecimento não é algo que pode ser transferido de pessoa para pessoa, chegando a ser o centro de uma de suas principais ideias: é preciso aprender a aprender. Portanto, o conceito de que crianças se desenvolvem a partir de observação e de contato com o meio não faz parte das pesquisas do biólogo.
Vygotsky chegou a complementar os resultados de Piaget sobre o aprendizado da linguagem. O psicólogo argumentou que as influências externas, ou seja, treinar com outras pessoas, são fundamentais para essa fase do desenvolvimento.
Enquanto Piaget acreditava que é da nossa natureza adquirir capacidades, Vygotsky defendia que uma criança pode ter ou não essas capacidades, dependendo de sua criação.
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Teoria de Vygotsky: conheça seus pilares
Para o psicólogo, o desenvolvimento da reflexão, da organização, do reconhecimento e da capacidade de tomar decisões sofrem influência direta do meio em que a criança está. Isto é, de acordo com a teoria vigotskiana, o primeiro contato da criança com novas atividades, habilidades ou informações deve ter a participação de um adulto. Essa é a necessidade de interação com o meio. A partir daí, ao internalizar um procedimento, a criança se apropria dele, tornando-o voluntário e independente.
Sendo assim, os principais pilares do pensamento de Vygotsky, quando traduzidos para os dias de hoje, reforçam a importância das interações sociais:
- O cérebro está em constante mudança e cada transformação pode ser influenciada pela cultura, pelo ambiente e também pela individualidade.
- As relações sociais são a base do funcionamento psicológico.
- A identidade de cada pessoa é construída a partir do grupo e dos comportamentos que ele reproduz.
- Existem símbolos que conectam as pessoas ao mundo ou a outras pessoas. Por isso, o aprendizado da língua e da escrita são fundamentais para o desenvolvimento infantil.
Para Vygotsky, o que são Zonas de Desenvolvimento?
As zonas de desenvolvimento dizem respeito às trocas que existem durante as fases do aprendizado das crianças.
Dessa forma, cada criança aprende num ritmo: enquanto umas já dominam a leitura, outras ainda precisam de alguma ajuda. Perceber as diferenças e estimular a troca entre elas leva ao desenvolvimento contínuo. Assim, a partir do que já conhece, ela avança para aprender um pouco mais.
E isso não acontece só na escola! Trocas e conexões ocorrem em diversos ambientes.
Entenda as diferenças entre cada zona de desenvolvimento:
- Zona de desenvolvimento real: é o conhecimento que a criança já tem. Com ele, ela se sente preparada para realizar alguma tarefa sem a ajuda de um adulto. Por exemplo: se a criança já sabe ler, ela pode escolher um livro e ler sozinha.
- Zona de desenvolvimento potencial: aqui, a criança tem a capacidade de encarar uma tarefa sendo ajudada por adultos ou colegas que já dominaram o assunto. Por exemplo: tirar dúvidas sobre exercícios de matemática de um novo conteúdo.
- Zona de desenvolvimento proximal: é a distância entre as zonas anteriores, ou seja, é aquilo que a criança ainda não aprendeu, mas está quase lá!
A percepção de tratar crianças como indivíduos está finalmente ganhando mais espaço. Teorias como a de Vygotsky, unidas aos esforços de educadores, pais e mães, têm sido fundamentais na construção desse lugar seguro para os nossos filhos serem quem são.
Escutar, respeitar os conflitos internos, guiar nas curiosidades, estimular as diferentes habilidades e valorizar o que a criança já sabe – tudo isso é parte desse percurso sem fim chamado desenvolvimento. Essa última parte fica de lição para os adultos também: não tenha medo de continuar aprendendo.
E quando o método escolhido parece não funcionar ou seu filho não vai bem nas disciplinas tradicionais?