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“Meu filho não come”: 5 motivos que podem estar por trás disso

Carol Albuquerque CA
sex, 25/11/2022 - 10:00
criança sentada à mesa distraída com aparelho eletrônico

“Nutri, por que o meu filho não come? Já tentei de tudo! Ofereci variedade de alimentos, diferentes formas de preparo, fiz desenhos com a comida, brincadeiras, contei histórias, implorei, chorei, e ainda assim ele não come. Socorro!"

Na busca por respostas, os pais percorrem um verdadeiro labirinto atrás de alternativas para fazer com que seus filhos comam, labirinto esse carregado muitas vezes de culpa por algo que fez ou acredita ter deixado de fazer. 

Uma criança que não come bem ou não come tudo aquilo que é esperado é um problema complexo para a família, para a escola e também para o convívio social.

Sinais de que a criança não quer comer

As dificuldades alimentares podem envolver desde erros de interpretação sobre o quanto a criança deve comer, até problemas comportamentais ou alguma questão fisiológica que impeça a criança de comer bem. 

Muitas vezes, as crianças rejeitam determinado alimento por não se sentirem confortáveis com um tipo de textura ou sabor. Por isso, compreender os motivos pelos quais seu filho está rejeitando o alimento oferecido é fundamental. 

A aversão ou resistência para se alimentar é uma forma que a criança encontra para se comunicar com você e quanto mais atento você estiver nos momentos das refeições, maior a probabilidade de entender o que está acontecendo com o seu filho. 

Não abrir a boca, nausear, chorar, vomitar, engasgar, jogar o pratinho no chão, virar a cabeça e sequer tocar na comida são formas de comunicação das crianças. 

Ou seja, são formas que seu filho achou para te dizer que alguma coisa não está indo bem no momento das refeições.

5 possíveis respostas para "meu filho não come"

Como dito anteriormente, muitas vezes a dificuldade alimentar não é somente gostar ou não de um alimento ou de um grupo de alimentos por falta de exposição a longo prazo. Ela pode, ainda, estar relacionada a outras questões como habilidades orais pouco desenvolvidas, ambiente onde são oferecidas as refeições e até mesmo doenças que comprometem a mastigação e deglutição, gerando desconforto.

Para ajudar você nessa questão tão angustiante, seguem 5 motivos que podem estar por trás do seu filho não comer, indo além da preferência alimentar.
Vamos lá.

1. Excesso de estímulos na hora de comer 

Quem nunca ligou a TV, celular ou tablet no desenho favorito do filho no momento das refeições com a boa intenção de distrair a criança para que ela possa comer melhor? 

Essa é uma prática super comum, principalmente em situações de desespero quando a criança não quer comer. A prática de estímulos eletrônicos no momento das refeições mascara as importantes sensações e vivências da criança ao se alimentar pois, afinal, todos os sentidos estão voltados para aquela tela. 

A criança fica hipnotizada enquanto colheradas são colocadas em sua boca sem ao menos percebê-las. 

Sempre comparo essa situação a assistir um filme no cinema com um balde de pipoca, pois é comum devorar o balde sem ao menos perceber, já que todos os sentidos estão voltados à tela. 

A hora da refeição é um importante momento para que a criança possa de fato experienciar os alimentos em suas diferentes texturas, sabores e até sons (já reparou no som que faz ao mastigar uma folha de alface americana ou mesmo um chips de batata?). 

Inclusive, é importante estimular essa percepção com perguntas para a criança: "Olha só: eu mordo essa folha e escuto um CREC, e você? Escuta CROC ou CREC?" Isso faz com que a criança faça um link positivo com o alimento. É importante também, nesse momento, não termos expectativas para que ela coma, pois na verdade a ideia é realmente saber o som e, com isso, ajudá-la a se familiarizar com os alimentos de forma divertida. 

O que acontece é que a criança costuma aceitar os alimentos quando hipnotizada por telas e depois passa a recusá-los quando de fato “encara frente à frente” aquele alimento que na verdade é “desconhecido”. Então, atenção ao uso de telas!

2. Alergias e intolerâncias alimentares

Diante de quadros de intolerâncias ou alergias alimentares, sabe-se que em geral existe uma demora até que de fato se chegue a um diagnóstico preciso.

E, nesse processo, a criança pode passar por sintomas como cólicas, vômitos, refluxo, diarreia ou constipação, urticárias, dor ou inchaço abdominal, dentre outras consequências. 

O que acontece, muitas vezes, é que a criança pode fazer um link negativo com o ato de se alimentar, afinal muitos registros na infância foram marcados por dor ou desconforto relacionados ao comer. 

Além do que, as famílias vivenciaram o medo ao ver sua criança se alimentar, na expectativa de uma possível reação. Temos ainda as crianças que tiveram baixo ganho de peso e/ou estatura devido à demora em diagnosticar e tratar essas patologias, uma vez que principalmente a alergia alimentar pode levar à inflamação da mucosa intestinal e, com isso, à diminuição da absorção dos nutrientes

Dentro desse cenário, é comum haver maior expectativa dos familiares e consequentemente pressão para que a criança coma para recuperar o estado nutricional. Então, tente visualizar o que simboliza o ato de comer para essa criança! É comum receber esses pequenos pacientes mais seletivos, e identificar essas questões é um importante caminho para lidar com as crianças que “não comem.”

3. Doenças na infância

Durante toda a fase de desenvolvimento na infância, há inúmeras situações de dor ou desconforto que podem impedir a criança de comer por um período, seja dor no nascimento dos dentes, afta, infecções de garganta, viroses, gripes e resfriados, dentre outras situações em que é comum a criança ficar inapetente (ou seja, sem apetite), além de ter desconforto para mastigar e engolir. 

Nessas situações, é comum observar as famílias recorrerem aos alimentos com melhor aceitação (afinal a criança está doente e a preocupação em vê-la comer é ainda maior). 

Em geral, esses alimentos que acabam substituindo refeições são leite, iogurtes e os superpalatáveis como doces, biscoitos etc. Pode também haver mudança na consistência, com alimentos mais pastosos e mais fáceis de engolir ou com o macarrão, que costuma ser sucesso nessa fase em que a criança não tolera nem mais o clássico arroz e feijão. 

O problema é que ao ter na rotina esses alimentos altamente palatáveis, o paladar vai ficando mais “viciado” e fica mais difícil a criança voltar a aceitar os alimentos in natura como frutas, legumes e verduras. Além disso, a criança, ao perceber a angústia da família para fazer com que ela coma, acaba se tornando ainda mais seletiva e isso vira uma bola de neve. 

Portanto, é fundamental investigar a fundo o histórico da criança para saber se a seletividade atual pode ter iniciado após algum episódio em que ela ficou doente, ou até mesmo se decorre de algum episódio de engasgo em que a criança posteriormente passou a ter medo de engolir determinados alimentos ou texturas.

4. Habilidade oral – Mastigação 

É interessante como para nós, adultos, o ato de comer pode parecer ser algo tão fácil e natural, ainda mais nos dias atuais, em que se come tão rápido e muitas vezes distraídos no celular. 

No entanto, para os pequenos tudo é uma nova experiência sensorial, em que o bebê faz registros importantes na cavidade oral, desde a introdução alimentar. Toda a percepção sensorial faz parte do aprendizado e, portanto, a exposição a diferentes cores, sabores e texturas é fundamental. 

É frequente receber famílias com medo de oferecer alimentos sólidos ao bebê, por medo de engasgo ou mesmo pelo fato de ele não ter dentinhos suficientes, razão pela qual acreditam que não teria a habilidade para mastigar. 

Acabam recorrendo a papinhas batidas no liquidificador ou excessivamente amassadas/trituradas. Mas a verdade é que a criança precisa do estímulo de mastigação para o seu desenvolvimento.

A família não só pode como deve oferecer refeições com todos os grupos de alimentos. Sejam eles amassados com o garfo, ou em cortes apropriados, para que a criança consiga segurar e comer sozinha – sempre sob a supervisão de um adulto. É comum receber casos em que as famílias relatam que, ao oferecer alimentos mais fibrosos, como as proteínas de origem animal ou mesmo algumas verduras que exijam uma habilidade específica de mastigação, se deparam com a cena em que a criança cospe o alimento de imediato, ou fica mastigando por longo tempo aquele pedaço de carne sem engolir (como se fosse um chiclete, sabe? rsrs). 

Assim, as famílias vão deixando de oferecer esses alimentos e, logo, a criança não tem a possibilidade de aprender a habilidade de mastigação para lidar com essas texturas. E então recebo esses pacientes seletivos, em que as famílias relatam que a criança não gosta de determinado alimento, quando na verdade não está relacionado ao gostar ou não do sabor, e sim, a uma inabilidade de mastigação. 

Identificar isso é fundamental para que possa ser trabalhada essa questão de exposição aos alimentos (geralmente em parceria com fonoaudiólogas e/ou terapeutas ocupacionais) e para que, aos poucos, a criança se sinta confortável com as texturas na boca, aprenda a mastigar (fazendo os movimentos de lateralização da língua) e com isso o repertório alimentar seja ampliado.

5. Postura na hora da refeição

É interessante como identificamos a personalidade das crianças desde a introdução alimentar. Costumo brincar com a seguinte comparação: nós adultos somos diferentes; alguns sentem-se super à vontade ao chegar em uma festa ou evento e, ao socializar/conversar com pessoas desconhecidas, em pouco tempo parecem íntimas. Outros precisam de um tempo maior para conhecer de fato as pessoas e sentir-se seguro no ambiente. Da mesma forma, uns pulam de paraquedas enquanto outros não conseguem nem se imaginar nessa situação. 

Algumas crianças precisam realmente de maior estabilidade na hora da refeição. É comum pais se queixarem de que “meu filho não come” e, quando eu vou analisar o ambiente, percebo que a criança está comendo quase deitada em cadeiras inapropriadas, como carrinhos e algumas cadeirinhas. 

A postura é fundamental para possibilitar a mastigação e deglutição de forma eficiente e confortável, além de dar conforto e segurança para a criança. 

Portanto, o ideal é colocar a criança sentada a 90º, e se atentar também para garantir que os pés estejam apoiados para maior estabilidade. Outra questão a ser observada é se há excesso de estímulos sonoros tais como televisão, lugar barulhento com pessoas falando alto, estímulos que para algumas crianças passam despercebidos e, no entanto, para outras podem interferir na aceitação de alimentos, fazendo com que a criança sinta-se incomodada e acarretando perda de interesse na refeição.

Veja o quanto a alimentação é complexa e o quanto comer bem vai muito além da composição do pratinho do seu filho. Para lidar com a recusa alimentar, é fundamental estarmos de olho nos sinais que nossos pequenos nos dão, além de buscar orientações sobre esse universo. 

Contem comigo nesse processo por uma infância bem nutrida!

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